Ontem foi o grande dia de atravessar a rua de casa e ir até o Chevrolet Hall para assistir ao show de Bob Dylan. Por mais que soubesse que seus shows não eram lá essas coisas, resolvi pagar para ver, afinal, fã que é fã sabe a euforia que é o anúncio de um show de seu ídolo e faz de tudo para passar alguns minutos no mesmo recinto que ele. Pois é.
Depois do caos para garantir nossos ingressos e dar “entrevista” pro jornal Estado de Minas externando minha ansiedade para o show, lá estávamos eu, o namorado e alguns amigos esperando para ver o que iria acontecer.
O show começou quase que pontualmente, com o Chevrolet Hall lotado de fãs frenéticos que a cada diminuída na luz do palco botavam os bofes pra fora de tanto gritar. Era a expectativa.
Nos primeiro acordes da música de abertura, Leopard-Skin Pill-Box Hat, gritos e aplausos, e um grunhido estranho que saía do microfone daquele senhor de chapéu em cima do palco. Qual era a música? Confesso que só fui saber hoje ao ver o setlist do show de ontem.
O cara do chapéu era Dylan, com a voz rouca e desgastada de quem já esfolou muito gogó ao longo de seus 50 anos de carreira. Mas antes fosse apenas a sua incapacidade de soltar a voz. Cada música foi apresentada de uma forma completamente desconstruída. Senti falta de instrumentos cruciais, que marcaram a história da música em álbuns como The Freewheelin’ Bob Dylan (o da capa antológica), Highway 61 Revisited e Blood on The Tracks. Onde estava o piano impactante de Ballad of a Thin Man? A gaita de Like a Rolling Stone? E o dedilhado delicioso de Desolation Row? Não tinha nada ali.
Simple Twist of Fate, minha música favorita e uma das letras mais lindas de sua carreira, foi totalmente amassagada por acordes distorcidos e descompassados, acompanhados da voz engasgada de um senhor de quase 71 anos que, em condições normais de temperatura e pressão, seria vaiado até mesmo num karaokê no centro de BH.
Uma coisa tenho que reconhecer: a banda que acompanhava Mr. Zimmerman era de responsa e conseguiu segurar o público nas músicas mais animadas como Highway 61 Revisited, Thunder on The Mountain e Rainy Day Woman #12 & 35, esta última tocada no bis.
Ao longo do show fui relembrando alguns outros shows que tive a oportunidade de ver e me surpreender positivamente, como o de John Fogerty, do Creedence, 4 anos mais novo que Dylan e com uma voz poderosa e um show espetacular. O de Johnny Winter, 3 anos mais novo que Dylan e que conseguiu fazer um dos melhores shows que eu já vi, mesmo com toda a sua debilidade. O de Paul McCartney, apenas 1 ano mais novo que Dylan e cujo show dispensa maiores comentários. Mas não havia como comparar.
Cheguei a querer ir embora, me perguntei várias vezes o que eu estava fazendo ali, pensei no dinheiro que havia gasto na compra frenética pelo último lote do ingresso. Enfim, me decepcionei.
No fim das contas o show valeu para duas coisas: ver que Dylan, no alto de sua genialidade, se encontra num ponto da vida em que ele pode se dar o luxo de simplesmente avacalhar todo o seu repertório, sem remorso algum; e de ver que estou completamente apta a participar do “Qual é a Música?” e levar o grande prêmio pra casa, porque depois do show de ontem, maestro, pode mandar 2 notas que eu acerto!
Abaixo, Dylan em 1975 tocando Simple Twist of Fate e Oh, Sister ao vivo.
Dylan dylan, sempre polemico. Ainda bem que nao perdi muito. Mas é uma pena. Como voce mesmo disse, a idade nao é desculpa pra nada né?
ahhhh…fala sério…concordo em tudo q vc fala da voz do Dylan,e digo mais na turnê de 2008 ,estava pior ainda…mas o fato dele simplesmente mudar as versões das musicas dele ,é devido ao fato do cara ser um gênio,tipo Leonardo da Vinci,,Picasso ,Mozart etc..ele não é uma pessoa normal…o problema q ele não aguenta tocar a musica milhares de vezes nas turnês ,durante 50 anos do mesmo jeito….é ser pouco criativo,o q não se atribui a ele…uma pessoa capaz de se reinventar ,e mudar a sua obra e se encantar com ela, “não importando se quem pagou quis ouvir…” e assim vem trilhando seu caminho encantando adolecentes de 14,15 anos igual vc viu no show de BH e q sabiam tudo de Bob Dylan, me desculpe ,mas a sua opinião é semelhante das pessoas q o criticaram quando trocou o violão pela guitarra elétrica,eram esse tipo de opinião q tinham às pessoas naquela época,q ele era um vendido,q não se escutava mais sua voz etc…então ta ae a diferença dele para nós…pobres mortais…Things have change ,Dylan se reinventa,esta em constante mutação,é um poeta q segue o seu tempo ,e é isso q fascina, eu vi os show dele no Brasil em 90,91,98,2008 e ontem,e te confesso q nunca vi o Dylan tão empolgado no show com e uma platéia tão empolgada…A Mineirada foi 10 !!! E o Dylan…ah…ele é o BOB DYLAN…
Vou deixar duas coisas para você: http://dylanesco.com/dylan-no-brasil-por-que-ir-ao-show/
e a frase: Vá para absorver e não para associar.
Se realmente fosse fã do Dylan não teria se frustrado.
Abraços
Também me surpreendi com o show. Mas quer saber? De uma forma positiva. Na primeira vez que Dylan veio ao Brasil, o assisti em São Paulo e foi um show abominável. Já havia comprado o ingresso para o Rio e fui desconfiado… Que show maravilhoso! Melhor ainda o que fez abrindo para os Rolling Stones em sua segunda vinda (fui com a camisa dessa excursão ao show). A terceira turnê não vi. E agora, jurei que é a penúltima vez que vou ao Chevrolet (já comprei o CSN). O som é horrososo, mas Dylan riu!!!! e fez um bis!!!! Inédito! Valeu ter ido ao provável último show dele por aqui. Definitivamente não foi uma cilada.
Oi Marcus,
não tenho dúvidas que a acústica do Chevrolet influenciou muito para que eu tivesse uma impressão negativa do show. De fato o som do local não favorece em nada, principalmente grandes músicos como Dylan. Dylan é um dos artistas mais significativos da história e gosto de praticamente todos os seus discos. O repertório do show foi excelente, o fechamento com Rainy Day Woman me deixou boquiaberta de tão bom. Escrevi o texto para provocar. Ainda bem que existem pessoas como você, que fazem comentários educados e pertinentes, sem deixar de mostrar seu ponto de vista.
Não poderei ir ao CSN, mas tenho certeza de que será um showzão, depois me conte como foi.
Abraços
Oi Natália,
Sem tempo para responder. Você acertou. Três horas de showzão! Muito provavelmente o melhor do ano. Fim do mês tem o Bonamassa.
Abraços e boas músicas
Bonamassa é só no Rio né? Vai ser um showzão também…
Queria muito ter ido ao CSN, mas foi impossível. Ainda bem que o ano ainda não acabou e muitos shows estão por vir 🙂
Abraços e boas músicas pra você também.
Ao colocar conteúdo na internet e abrir espaço para comentários, esteja preparada para não gostar do que vai encontrar. Nem todos tem a mesma opinião que você e pelo que vi aqui, na verdade ninguém teve. (Escreveu o texto para provocar… Conta outra!) ;D.